A universitária Brenda (nome fictício), 17 anos, moradora de Belo Horizonte, nunca imaginou que a sua vida fosse se transformar ao simples toque de um mouse. No início do ano, ao ver na tela do computador foto e uma série de fofocas a seu respeito, a jovem ficou horrorizada e chorou de raiva. “É impressionante como alguém cria comunidades no Orkut e outras redes sociais inventando mentiras. Fiquei muito triste, pois as demais pessoas podem formar uma imagem errada a nosso respeito e agir com preconceito antes mesmo de nos conhecerem. Falam de tudo na internet, que a pessoa é gorda, chata, feia, gay e por aí vai”, lamenta a garota.
Nesse universo virtual com espaço de sobra para deboche, calúnias e invenções, principalmente entre adolescentes, Brenda não está sozinha. No Brasil, 33% dos adolescentes admitem ter um amigo que já foi vítima de cyberbullying, caracterizado por atitudes agressivas, intencionais e repetitivas no universo virtual, vindas de uma pessoa ou de um grupo. O dado consta em pesquisa divulgada ontem, Dia Mundial da Internet Segura, pela organização não governamental de defesa dos direitos humanos na internet, SaferNet Brasil, com sede em Salvador (BA).
O levantamento foi feito entre 2.159 alunos na faixa etária de 10 a 17 anos e incluiu 732 educadores do país. Um dos dados que chamam a atenção no estudo, realizado no segundo semestre do ano passado, é a prática do cyberbullying ou intimidação virtual, considerado um dos maiores riscos para os jovens brasileiros conectados à rede. Os educadores dizem que 26% deles já souberam de casos envolvendo a prática entre os alunos de sua escola; 99% consideram que a instituição de ensino tem compromisso com a discussão das medidas de segurança online; e 67% acreditam que o tema merece trabalhos urgentes de orientação.
Segundo os coordenadores da pesquisa, o objetivo do trabalho foi conhecer as principais vulnerabilidades do público da internet e o significado para as crianças e jovens e seus educadores de segurança na internet. “É preciso que todos, em especial os adolescentes, entendam que cyberbullying não é brincadeira. A prática pode começar de forma simples, mas, com o tempo, pode ganhar proporções e agressividade até chegar à Justiça. No caso de adolescentes, os pais terão que responder civilmente. Se a prática partir de pessoas maiores de idade, a atitude configura calúnia e difamação”, diz o diretor de Prevenção da SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm.